sábado, 8 de setembro de 2012

1943-A BATALHA DE ALJEZUR

Boa Tarde,

Hoje vou-vos falar de mais um livro...um livro interessantíssimo sobre a Batalha de Aljezur.
Tive a sorte, de recententemente ter passado em Aljezur, onde me lembrei de ir procurar este livro.
Desloquei-me ao posto de Turismo, o qual tinha uma pequena vitrine com as duas edições do livro, bem como algumas peças do avião Alemão, que foram recuperadas na altura da destruição do aparelho.
Perguntei pelo livro, ao qual me foi informado de que o mesmo estava esgotado (já vai na 2ªEdição), e que deveria procurá-lo na Junta de Freguesia de Aljezur.Assim fiz.Encontrei o livro, pelo qual paguei 7,50 Eur, um preço bom, para quem gosta de ler este tipo de histórias.
Para quem quiser comprá-lo terá pois que contactar a Junta de Freguesia de Aljezur através deste endereço de e-mail geral@jf-aljezur.pt.



«Passava pouco das nove da manhã. Apesar da superioridade numérica, os bombardeiros da Luftwaffe, mais pesados e lentos, lutaram para sobreviver. A batalha aérea durou quase uma hora. "A dada altura, os quadrimotores alemães iniciaram a fuga para norte largando algumas bombas [para conseguirem ganhar velocidade e manobralidade], parte das quais explodiram. Na Atalaia, perto de Aljezur, um dos Focke-Wulf terá ficado para trás e, num voo rasante e audaz, foi atingido por baixo, no depósito de combustível por um dos pequenos e rápidos caças britânicos, incendiando-se em seguida."
Outro aljezurense, José Catarino, conta: "Quando o avião alemão se aproximou do posto [da Guarda Fiscal, hoje abandonado] da Atalaia, caiu antes de lá chegar. Já ia tudo descontrolado, a arder por todos os lados". No embate, o Focke Wulf explode, fazendo arder o mato à sua volta. Segundo o mesmo testemunho, o caça britânico que o abateu sobrevoava o local, aparentemente fotografando o avião abatido.
José Catarino procura imagens na memória de mais de meio século: "O avião ficou partido em dois pedaços. Ficaram duas granadas cá em cima [da falésia]. Outra rebolou lá para baixo, para o laredo. E depois começou o pessoal então a ver corpos que se foram esquivando pelas asas. Corpos já todos queimados".


 
Ao todo, sete. As campas, no cemitério de Aljezur, ostentam os seus nomes gravados nas cruzes militares. Já depois da Guerra, durante anos, foram cuidadas pelos militares alemães estacionados na base aérea de Beja. Por pouco o enterro não foi perturbado por uma ausência de peso: a do coveiro. "Mestre" Pedro Afonso, no meio de toda a confusão de fuselagem retorcida, no local da queda do aparelho, encontrou um coelho morto numa moita, vítima inadvertida. Ao comê-lo, "ia morrendo". Esta é outra das histórias que os mais velhos ainda lembram, com um misto de divertimento e seriedade.



             DISTINTIVOS DA LUFTWAFFE-PILOTO AVIADOR (esq);RADIO OPERADOR (dir)
             BARRETE DE MEDALHAS (cruz de Ferro II Classe,4 anos de antiguidade LW,Legion Condor/Cruz Vermelha,Legion Condor/Medalha da Vitória)
Estes distintivos eram certamente usados pelos aviadores Alemães que faleceram em combate.

O Século do dia seguinte refere que "(…) a bordo de barcos de pesca portugueses, como a traineira Valha-nos Deus , os tripulantes tiveram que deitar-se no convés, por causa das rajadas de metralhadora, pois os aviões voavam muito baixo". Uma missiva confidencial, datada de 14 de Julho desse ano, e enviada pelo Ministério da Marinha ao seu representante máximo, não deixa dúvidas quanto ao conhecimento do governo português da batalha aérea: "Na manhã de Sexta-feira, 9 de Julho de 1943, quatro aviões alemães apareceram na costa ocidental algarvia, três dos quais sobrevoaram Sines (conforme comunicação do posto de lá) às nove e dez minutos, a baixa altura, de sul para norte, largando bombas de profundidade junto à costa, provavelmente por virem perseguidos por aviões aliados". No fim concluía: " Possivelmente deste grupo de aviões faria parte o que caiu em Aljezur...".

Na tarde do próprio dia do combate aéreo, os corpos dos malogrados aviadores são levados para a Igreja Matriz de Aljezur, numa carreta de bois. Ainda a 9 de Julho chega à vila o adjunto do adido aeronáutico da embaixada alemã em Lisboa, Karl Spiess. No dia seguinte, cerca do meio-dia, tiveram lugar as cerimónias fúnebres, com uma extensa comitiva luso-germânica, vinda expressamente da capital.

Após os funerais, especialistas da Força Aérea portuguesa deslocaram-se à Atalaia para fazer explodir as quatro bombas de 250 quilos cada, miraculosamente intactas. Conta quem se lembra, que foram precisos dois quilómetros de cabo para as detonar em segurança. A cratera de uma das explosões ainda é visível na Atalaia.

«Segundo José Marreiros, da Associação de Defesa do Património Histórico e arqueológico de Aljezur, a batalha começou quando quatro caças alemães tentavam interceptar um "comboio" de 25 navios aliados, que navegava ao longo da costa vicentina em direcção ao Norte de África, escoltado por dois aviões "spitfire" ingleses.Um dos caças alemães (os outros conseguiram escapar) acabaria por ser atingido, incendiando-se e explodindo no ar, antes de se despenhar sobre uma falésia no sítio da Parede, próximo da Ponta da Atalaia e junto à praia da Arrifana, onde se ergue um memorial em homenagem às vítimas.
De acordo com José Emídio, logo a seguir começou a "romaria" ao local do acidente, do qual apenas restaram intactas quatro grandes bombas de cerca de 250 quilos cada uma, detonadas artificialmente por especialistas.

"Houve muita gente que foi lá buscar peças do avião para as vender na sucata", recorda, acrescentando haver também quem usasse balas retiradas do local nos cintos, como recordação.

Os sete soldados que tripulavam o avião foram sepultados com honras de Estado no cemitério de Aljezur - onde as campas ainda se mantêm impecavelmente arranjadas -, num funeral a que assistiram quase todos os cerca de 6.000 habitantes da vila.


 


Adolf Hitler viria mesmo a condecorar quatro personalidades portuguesas - entretanto já falecidas - com a cruz de mérito da águia alemã, num acto de reconhecimento do auxílio prestado na recolha e enterro dos aviadores.

Apesar de noticiada na imprensa da época, a batalha de Aljezur foi "completamente abafada" pelas autoridades, conforme conta José Marreiros, que realça ainda a existência de um faroleiro que serviria alegadamente os alemães sem o conhecimento da Marinha Portuguesa.

"Havia um faroleiro que informava via rádio a legação germânica em Lisboa de todas as movimentações dos aliados ao longo da costa algarvia", afirma, o que pode explicar a rapidez no ataque ao comboio aliado, já que os alemães tinham uma base no Sul de França.

O certo é que até hoje a batalha de Aljezur persiste na memória daquele povo, que velou os corpos dos sete tripulantes mortos como se de conterrâneos seus se tratasse.

As campas, no cemitério de Aljezur, ostentam os seus nomes gravados nas cruzes militares. Já depois da Guerra, durante anos, foram cuidadas pelos militares alemães estacionados na base aérea de Beja. »

1 comentário:

  1. Muito interessante. Obrigado pela recolha e preservação desta memória. Possuo foto do pequeno memorial na Atalaia, se for do vosso interesse.

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