Boa Tarde,
Hoje vou-vos falar de mais um livro...um livro interessantíssimo sobre a Batalha de Aljezur.
Tive a sorte, de recententemente ter passado em Aljezur, onde me lembrei de ir procurar este livro.
Desloquei-me ao posto de Turismo, o qual tinha uma pequena vitrine com as duas edições do livro, bem como algumas peças do avião Alemão, que foram recuperadas na altura da destruição do aparelho.
Perguntei pelo livro, ao qual me foi informado de que o mesmo estava esgotado (já vai na 2ªEdição), e que deveria procurá-lo na Junta de Freguesia de Aljezur.Assim fiz.Encontrei o livro, pelo qual paguei 7,50 Eur, um preço bom, para quem gosta de ler este tipo de histórias.
Para quem quiser comprá-lo terá pois que contactar a Junta de Freguesia de Aljezur através deste endereço de e-mail geral@jf-aljezur.pt.
«Passava pouco das nove da manhã. Apesar da superioridade numérica, os
bombardeiros da Luftwaffe, mais pesados e lentos, lutaram para sobreviver. A
batalha aérea durou quase uma hora. "A dada altura, os quadrimotores alemães
iniciaram a fuga para norte largando algumas bombas [para conseguirem ganhar
velocidade e manobralidade], parte das quais explodiram. Na Atalaia, perto de
Aljezur, um dos Focke-Wulf terá ficado para trás e, num voo rasante e
audaz, foi atingido por baixo, no depósito de combustível por um dos pequenos e
rápidos caças britânicos, incendiando-se em seguida."
Outro aljezurense,
José Catarino, conta: "Quando o avião alemão se aproximou do posto [da Guarda
Fiscal, hoje abandonado] da Atalaia, caiu antes de lá chegar. Já ia
tudo descontrolado, a arder por todos os lados". No embate, o Focke
Wulf explode, fazendo arder o mato à sua volta. Segundo o mesmo testemunho, o
caça britânico que o abateu sobrevoava o local, aparentemente fotografando o
avião abatido.
José Catarino procura imagens na memória de mais de meio século: "O avião ficou
partido em dois pedaços. Ficaram duas granadas cá em cima [da falésia]. Outra
rebolou lá para baixo, para o laredo. E depois começou o pessoal então a ver
corpos que se foram esquivando pelas asas. Corpos já todos
queimados".
Ao todo, sete. As
campas, no cemitério de Aljezur, ostentam os seus nomes gravados nas cruzes
militares. Já depois da Guerra, durante anos, foram cuidadas pelos militares
alemães estacionados na base aérea de Beja. Por pouco o enterro não foi
perturbado por uma ausência de peso: a do coveiro. "Mestre" Pedro Afonso, no
meio de toda a confusão de fuselagem retorcida, no local da queda do aparelho,
encontrou um coelho morto numa moita, vítima inadvertida. Ao comê-lo, "ia
morrendo". Esta é outra das histórias que os mais velhos ainda lembram, com um
misto de divertimento e seriedade.
DISTINTIVOS DA LUFTWAFFE-PILOTO AVIADOR (esq);RADIO OPERADOR (dir)
BARRETE DE MEDALHAS (cruz de Ferro II Classe,4 anos de antiguidade LW,Legion Condor/Cruz Vermelha,Legion Condor/Medalha da Vitória)
Estes distintivos eram certamente usados pelos aviadores Alemães que faleceram em combate.
O Século do
dia seguinte refere que "(…) a bordo de barcos de pesca portugueses, como a
traineira Valha-nos Deus , os tripulantes tiveram que deitar-se no convés, por
causa das rajadas de metralhadora, pois os aviões voavam muito baixo". Uma
missiva confidencial, datada de 14 de Julho desse ano, e enviada pelo Ministério
da Marinha ao seu representante máximo, não deixa dúvidas quanto ao conhecimento
do governo português da batalha aérea: "Na manhã de Sexta-feira, 9 de Julho de
1943, quatro aviões alemães apareceram na costa ocidental algarvia, três dos
quais sobrevoaram Sines (conforme comunicação do posto de lá) às nove e dez
minutos, a baixa altura, de sul para norte, largando bombas de profundidade
junto à costa, provavelmente por virem perseguidos por aviões aliados". No fim
concluía: " Possivelmente deste grupo de aviões faria parte o que caiu em
Aljezur...".
Na tarde do próprio
dia do combate aéreo, os corpos dos malogrados aviadores são levados para a
Igreja Matriz de Aljezur, numa carreta de bois. Ainda a 9 de Julho chega à vila
o adjunto do adido aeronáutico da embaixada alemã em Lisboa, Karl Spiess. No dia seguinte, cerca do meio-dia, tiveram lugar as cerimónias
fúnebres, com uma extensa comitiva luso-germânica, vinda expressamente da
capital.
Após os
funerais, especialistas da Força Aérea portuguesa deslocaram-se à Atalaia para
fazer explodir as quatro bombas de 250 quilos cada, miraculosamente
intactas. Conta quem se lembra, que foram precisos dois quilómetros de cabo
para as detonar em segurança. A cratera de uma das explosões ainda é visível na
Atalaia.
«Segundo José Marreiros, da Associação de Defesa do Património Histórico e arqueológico de Aljezur, a batalha começou quando quatro caças alemães tentavam interceptar um "comboio" de 25 navios aliados, que navegava ao longo da costa vicentina em direcção ao Norte de África, escoltado por dois aviões "spitfire" ingleses.Um dos caças alemães (os outros conseguiram escapar) acabaria por ser atingido, incendiando-se e explodindo no ar, antes de se despenhar sobre uma falésia no sítio da Parede, próximo da Ponta da Atalaia e junto à praia da Arrifana, onde se ergue um memorial em homenagem às vítimas.
De acordo com José Emídio, logo a seguir começou a "romaria" ao local do acidente, do qual apenas restaram intactas quatro grandes bombas de cerca de 250 quilos cada uma, detonadas artificialmente por especialistas.
"Houve muita gente que foi lá buscar peças do avião para as vender na sucata", recorda, acrescentando haver também quem usasse balas retiradas do local nos cintos, como recordação.
Os sete soldados que tripulavam o avião foram sepultados com honras de Estado no cemitério de Aljezur - onde as campas ainda se mantêm impecavelmente arranjadas -, num funeral a que assistiram quase todos os cerca de 6.000 habitantes da vila.
Adolf Hitler viria mesmo a condecorar quatro personalidades portuguesas - entretanto já falecidas - com a cruz de mérito da águia alemã, num acto de reconhecimento do auxílio prestado na recolha e enterro dos aviadores.
Apesar de noticiada na imprensa da época, a batalha de Aljezur foi "completamente abafada" pelas autoridades, conforme conta José Marreiros, que realça ainda a existência de um faroleiro que serviria alegadamente os alemães sem o conhecimento da Marinha Portuguesa.
"Havia um faroleiro que informava via rádio a legação germânica em Lisboa de todas as movimentações dos aliados ao longo da costa algarvia", afirma, o que pode explicar a rapidez no ataque ao comboio aliado, já que os alemães tinham uma base no Sul de França.
O certo é que até hoje a batalha de Aljezur persiste na memória daquele povo, que velou os corpos dos sete tripulantes mortos como se de conterrâneos seus se tratasse.
As campas, no cemitério de Aljezur, ostentam os seus nomes gravados nas cruzes militares. Já depois da Guerra, durante anos, foram cuidadas pelos militares alemães estacionados na base aérea de Beja. »
Blog dedicado a toda a iconografia e memorabília dos diversos Nacionalismos Europeus. (1926-1945)Dirige-se essencialmente a coleccionadores e curiosos desta temática bastante rica em uniformes, distintivos, e condecorações. Abrange também o período da 1ª Guerra Mundial (1914-1918) AVISO: Este não é um blogue de carácter politico.Pretende apenas mostrar alguns aspectos da recente História passada, sem complexos e tabus.Trata-se apenas de um espaço de carácter histórico.
Muito interessante. Obrigado pela recolha e preservação desta memória. Possuo foto do pequeno memorial na Atalaia, se for do vosso interesse.
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