Coloco hoje uma carta interessantíssima e muito rara, do "Fascio Italiano de Lisbona", datada de 14 de Abril de 1943.
O "Fascio Italiano de Lisbona", aliás como todas as secções/sedes dos Fascios, por esse mundo fora, tinham sempre associados um nome de um mártir Fascista, ou Nacionalista, caído em nome da Revolução Fascista, ou em nome da Itália. O Fascio de Lisbona, dependia directamente de Roma e dos "Fasci Italiani all'Estero"
No caso Português foi-lhe atríbuido o nome de Fulciere Paulucci de Calboli,
Pauluci de Calboli, filho de diplomata Italiano, nasceu em Forlí, em 1893, e faleceu na Suiça no dia 28 de Fevereiro de 1919.
Foi um Militar Italiano, voluntário durante a 1ªGM. Ferido em 1917, na batalha de Caporetto, ferida essa que lhe provocou invalidez de guerra. Apesar da invalidez de guerra ( não podia andar) teve um papel importante na acção de propaganda em todo o Norte de Itália, apelando na fase final da guerra, à resistência. Em Março de 1918, enquanto estava no Hospital em Genova, contrai uma doença de pele- a "Erisipela", na altura incurável. Inicia assim o seu declínio físico, e morre com apenas 26 anos, no dia 28 de Fevereiro de 1919, no sanatório de Gstaad, na Suiça.
PAULUCCI DE CALBOLI
Quanto à carta em si, datada de 10 de Abril de 1943, a mesma faz referência à troca de prisioneiros Italianos, que se viria a realizar em Lisboa, no Cais de Alcântara, no dia 18 de Abril de 1943, e que foi notícia na imprensa Portuguesa. ( Século Ilustrado de 24 de Abril de 1943)
Tratou-se de uma troca de 409 Militares Italianos, com prisioneiros Ingleses, na sua grande maioria doentes, ou vitimas de ferimentos graves.
A carta apela à mobilização da comunidade Italiana de então, e convoca reunião para o dia 12 de Abril de 1943, com a presença do "Console Generale" que era o Chefe Fascista da Casa de Itália, para dar a conhecer os preparativos, de forma a poderem receber o melhor possível, os prisioneiros, vindos do Norte de África ( Egipto, Líbia e Tunisia), e que tinham combatido ao lado das tropas alemãs do Afrika Korps, do então célebre General Rommel.
A carta é assinada pela chefe do Fascio Feminino ( Fascio Femminile) da casa de Itália, a Condessa de Nigra. ( G.Nigra)
A Condessa de Nigra, a Srª Dona Guilhermina de Mendonça ( 1904- ????) é casada com o Conde de Nigra, Carlo Luigi Nigra (Torino, 1900-Lisboa 1973), daí ter herdado o título.
Seria interessante fazer um estudo mais aprofundado sobre esta Senhora Portuguesa, Guilhermina de Mendonça.
Tendo em conta a data, Abril de 1943, e com a caída do Fascismo Italiano 3 meses depois, em Julho de 1943, este acto deve ter sido talvez um dos últimos, senão mesmo o último acto oficial realizado pela casa de Itália, em Lisboa.
No período que se segue, e com a constituição da República de Saló em Setembro de 1943, e pelo facto de o Governo de Salazar não ter reconhecido a nova Republica Fascista, constituída no Norte de Itália, e com a derrota iminente do Eixo, a casa de Itália praticamente deixou de realizar qualquer acto.
Eu próprio desloquei-me ao Instituto Italiano, para saber se me davam mais alguma informação, chegando mesmo a enviar um e-mail à responsável, mas até à data nada me disseram, Fiquei assim com má impressão deste Instituto. Pelo menos uma resposta ao e-mail deveria ter tido, mesmo que fosse negativa. Era o mínimo exigível.
Sobre as relações entre Portugal e Nacional Socialismo Alemão, já existe muita coisa escrita, contudo sobre as relações entre o Estado Novo e a Itália Fascista, pouco existe. Apenas algumas referências são feitas, mas nada de profundo. Seria uma matéria interessante ainda por explorar.
PRISIONEIROS ITALIANOS DESEMBARCAM NO CAIS DE ALCÂNTARA ( Foto Século Ilustrado 24/04/1943
FEZ PARTITO NAZIONALE FASCISTA
INSTITUTO ITALIANO -HISTÓRIA
A história do Istituto Italiano de Cultura, instituído em 1936 no palacete da Rua do Salitre e propriedade da Casa de Itália, está estreitamente ligada à condição política daquele período.
A função primária do Instituto era efectivamente a de acompanhar as directivas da conhecida Accademia Reale, órgão de cultura do governo fascista onde pertenciam muitos dos intelectuais e escritores da época como L. Pirandello, G. D’Anunzio, F. T. Marinetti.
O primeiro curso de Língua e Literatura Italiana realizado no Instituto foi ministrado pelo Prof. Giuseppe Valentini, professor da Faculdade de Letras de Lisboa. Por ocasião da inauguração da nova sede, Alessandro Pavolini (futuro ministro da cultura popular em 1939, e assassinado em Dongo, 28 de Abril de 1945) apresentou duas conferências: uma sobre a organização corporativa italiana e outra sobre a arte fascista.
ALESSANDRO PAVOLINI ( 1903-1945)
Neste ano chave do Estado Novo Português, o Instituto de Cultura Italiana colaborou por aproximação ideológica dos dois regimes através de toda uma série de encontros e de conferências sobre a cultura, o sistema judicial e as relações históricas entre Itália e Portugal, organizadas pelo então Director Aldo Bizzarri.
Em 1941, Bizzarri é substituído por Gino Saviotti, fundador do Teatro-Estúdio do Salitre, companhia precursora dos grupos de teatro experimental em Portugal até 1950. No micro-teatro, ainda hoje existente no segundo andar do edifício, foram representadas, com realização do próprio Saviotti e de Vasco de Mendonça Alves, várias pieces teatrais “essencialistas” de vários autores portugueses e italianos como Gil Vicente, Carlo Gozzi, Vittorio Alfieri, Carlos Montanha, José de Almada Negreiros, Luiz Francisco Rebello.
Saviotti, homem de teatro, teve a difícil tarefa de gerir o Instituto de um país em guerra no contexto da declarada neutralidade portuguesa.
A delegação italiana na Exposição do Mundo Português (Junho de 1940) foi a última representação oficial do regime fascista em Portugal.
Os Directores deste Instituto e durante o período Fascista foram:
-Guido Valenti ( 1927-1933)
- Giuseppe Valenti ( 1933-1936)
- Aldo Bizzarri ( 1933-1936)- com Luigi Federzoni como Presidente entre 1940-1943
-Gino Saviotti ( 1941-1950)
LUIGI FEDERZONI ( 1878-1967)
INSTITUTO ITALIANO DE CULTURA LISBOA-RUA DO SALITRE 146
Fontes:
-Viriatos Militaria
-Instituto Italiano de Cultura
-Wikipedia